A psicologia é uma coisa até interessante. Tanto que levou-a a cursar a faculdade. E que faculdade! Por que a exclamação? Você acha que é uma referência aos bons professores, às boas instalações etc etc etc? Não. Quando se está na faculdade, uma só coisa realmente importa: festar. Muito. E ela se lembrava de cada uma daquelas festas. Inclusive tinha a daquele dia à tarde, todo mundo se beijando ao ar livre e [trecho censurado para menores de 18 anos, e sendo o autor menor, sinto muito, vão ter de se contentar em saber só isso], mas, enfim, agora estava lá no consultório, ouvindo um cara. Que, por sinal, não parava de falar. O saco dessa profissão é isso: o povo gosta de falar. Essa, aliás, deve ser a atividade de que o ser humano mais gosta (depois do sexo, talvez, mas só em alguns casos). Basta observar qualquer reunião de pessoas. A conversa sempre prevalece. Não importa se aquele p.h.D em gestão empresarial de banheiros está falando, sempre alguém vai virar do lado e perguntar e aí, como foi o churrasco, a carne tava boa, e daqui a pouco nosso ilustre palestrante vai se ver falando apenas para a tia solteirona que está a fim dele. Mas voltando ao consultório, ela percebia que a boca de seu paciente se mexia sem parar. Obviamente, não ouvia nada. Naquele momento, seu cérebro concentrava-se em analisar as cortinas, será que não devia trocá-las, com um fundo musical de Ivete. De repente, o homem fechou a boca. Ela percebeu e, fazendo-se de desentendida, perguntou desculpe, mas você quer o quê, passando a impressão de que o pobre coitado pedira algo absurdo. E ele respondeu, quero que me diga o motivo para eu estar fazendo terapia. Putz! Aì ferrou legal. Esse era o tipo de paciente que faz um joguinho de gato e rato, incitando o psicólogo a descobrir o problema e solucioná-lo antes que ocorra um suicídio. Ela pediu-lhe que voltasse amanhã, pois o horário já tinha acabado. Despediram-se, e ela ficou lá. Seus colegas tinham comentado de casos parecidos, que acabaram tragicamente. Mas ela estava disposta a lutar. Passou a noite inteira lendo os livros da faculdade, engolindo-os quase. Se fosse Freud, diria que tinha alguma coisa a ver com a mãe, mas ela sentia algo além disso. Finalmente, o dia seguinte chegou. O paciente bateu na porta, ela abriu. Sentaram-se. Solenemente, ela ergueu a cabeça e disse: "Você faz terapia porque (tchan tchan tchan) eu preciso ganhar dinheiro".
P.S.: L'argent, toujours l'argent... (não entendeu põe no tradutor XD).