quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Homenagem aos românticos

Vivia numa metrópole. Qual? Não importa. Todas são iguais em sua agitação cinza-pálido, modorrento, que nos engole num ciclone de fumaça e poeira. E ele observava isso pela sua janela. Olhava a rua, cortada por carros. Velozes. Eles transmitiam perfeitamente o sentimento que trazia dentro do peito: uma convulsão vulcânica, espirrando os incandescentes destroços de um coração partido. Não, não ocorrera nenhuma traição. Muito menos a morte dela. Pelo contrário. A vivacidade rubra do sangue arterial permanecia viva em sua cálida face. O problema era justamente aquela imposição ridícula, resquícios de um patriarcalismo rude e preconceituoso! Afinal, de que importava se ele não tinha dinheiro, o amor bastava, é o alimento perene da alma, que supera todas as vis necessidades materiais de uma sociedade corrompidamente burguesa. Além do mais ele era jovem, via despontar a aurora de sua vida, época em que as paixões inquietam o corpo, fazendo-o verdadeiro refém, impotente, frágil. Olhou novamente a rua lá fora. Descansou as pálpebras. Imaginou-se no cimo de um penhasco sobre o mar revolto, as ondas chocando-se violentamente contra a rocha. Um cenário de fazer inveja ao pobre Werther, que teve de se contentar em morrer no próprio quarto. Deixou os ruídos dos escapamentos entrarem por seus ouvidos, infectarem seu cérebro. Estava decidido e nada poderia convencê-lo a desisitir de seu intento. Já que não podia derrubar o opressivo sistema que esmagava seu amor por ela, entregava-se inteiramente às incertezas da morte, solução a mais tranqüilizadora que podia vislumbrar. Sentiu o ácido odor sulfúrico que os automóveis emitiam em sua direção.Fazia isso por amor a ela. Queria gritar para que todos soubessem. Era sua homenagem final. Dedicava-lhe o último suspiro, assim como lhe dedicara cada segundo de seus dias, apenas pensando em sua magnífica beleza. Contou até três. E jogou-se pela janela. Sem olhar para trás. Sem hesitar.Felizmente o térreo não fica tão longe do solo.

P.S.: O "românticos" do título refere-se aos escritores do Romantismo, escola literária de fins do século XVIII a meados do XIX.
P.P.S.: Alzira forever!!! XD

4 comentários:

Juliana Galante disse...

oi..me desculpe!
entao..terá uma apresentação só dia 8/12 depois dessa de sabado..
ai é R$6,00 lá no municipal..
se quizer ir..acho que vai gostar!
a peça é "a invasão" Dias GOmes!

ps:desculpe por nao te responder antes..sobre sair fds..é que nao parei em casa mesmo!..a correria ta demais!

bjao

Fernando Neves - KroSS disse...

É. Acho qu'eu não preciso comentar muito aqui, além do mais o texto está impecável; Figuras de linguagem de dar inveja, ironia, romantismo esplêndido, intertextualidade e que não te faltas: Inspiração para obras tão bem elaboradas.

Acho que mesmo você almejando Medicina, deveria ter um trabalho paralelo - um hobby, talvez - para escrever livros de contos. Não tem coisa melhor pra esse mundo agitado que vivemos: Textos poéticos, rápidos, bastante carga reflexiva e/ou emocional, começo, meio e fim. E isso você faz com uma excelencia tão grande que te confesso: eu invejo.

Mas é isso ae!
Mes humildes Parebéns.

Só para constar, depois de ter lido tudo isso, conversando tanto por comentários e bla bla bla... Qual é teu verdadeiro nome?!
xD

Flw!

Nícholas Mendes disse...

"Além do mais ele era jovem, via despontar a aurora de sua vida, época em que as paixões inquietam o corpo, fazendo-o verdadeiro refém, impotente, frágil."

simplesmente magnífico,explendido e inigualável.
me indentifiquei muito com essa parte.E aliás,com esse texto,realmente pensei em tal possibilidade esses dias.Meu maior medo era o de acontecer o que aconteceu com o personagem.Ter o térreo muito próximo.
8S
Ainda bem que tive esse medo;já pensou o que podia ter acontecido
uehuaeygq
(te contando novidades.Acho que vc sabe o que aconteceu)
falo!!

Gitana disse...

nossa... eu amei *.*
simplesmente maravilhoso o texto...
estou sem palvras... *o*
beijao
f
e
r




PS:romantica assumida ^^ (acho que isso jah diz tudo)