Delírio, um delírio delirantemente delirante, tudo era vermelho, tudo era rosa, tudo era todas as cores juntas, numa única sinfonia policromática, pancromática, brilhos, luzes ofuscantes, era o canto de roxos rouxinóis que se esgarçavam entre gigantes girassóis, a magia do mundo, a máquina da vida, tudo podia, tudo queria, tudo fazia, o limite da realidade era o sonho, pefumes de todos os tipos, odores, sabores, chocolates com pimentas, sejam malaguetas ou do reino, o que importa é sentir, expandir os sentidos, explorar, extrapolar além do extrapolável, gritar, existir não é nada senão berrar, liberar o ar dos pulmões, crescer, ocupar o espaço todo, nada é maior, nada vence, é isso, domínio, força, poder, muito poder! Pausa... Alegres pradarias transformadas em desfigurados pântanos, onde impera ácido sulfídrico, cianídrico, clorídrico, dor, insuportável, inimaginável, retorce, corrói, desmancha, como é possível, apertos, pedaços arrancados, tudo era um imenso aspirador, a vida sugada, destroçada, reduzida ao pó, nossa incerta origem mas com certeza nosso fim, a magnitude da podridão hepática, pancreática, visceral como um todo, repulsa, nojo, sangue, encefalites, bronquites, artroses, escleroses, ites e oses num pas-de-deux infernal, sem fim, que sufoca e asfixia, deixando apenas a sordidez de monóxidos, dióxidos, multióxidos, todos letais, todos aterradores, que matam e matam e matam. Pausa... Cinza, bege, tons pastéis, nada a fazer, tudo é igual, pra que sorrir, pra que chorar, pra que viver, vou-me indo, perco-me no meio de sedimentos de uma foz em delta, sumo, para nunca mais voltar. Era apenas mais um coração. Apaixonado. Que se foi.
P.S.: "Deixa a doidera bater ..." uashsuahasuh