segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Perfil

Acostumara-se a ser odiada por todos. Desde sempre só ouvia reclamações, pragas, xingamentos. Nunca soubera o valor do afeto. E nisso invejava muito os outros: mesmo nas horas de maior dificuldade, como as que já se habituara a presenciar, as pessoas não faltavam umas às outras. Isso lhe provocava um aperto imenso no que podia chamar de coração. Tinha de concordar: nem sempre aparecia nas horas mais propícias. Mas não era culpa dela, apenas seguia as ordens. É, parece desculpa de ex-soldado nazista. Fazer o quê. É impossível convencer a todos. Para efeito de definição da própria identidade, comparava-se ao vizinho chato do segundo andar, que, no melhor da festa, arromba a porta junto com a polícia e acaba com tudo. Daí você pode ter uma leve noção de como odiavam-na. Nunca tentaram defendê-la, e seu discurso era sempre em vão, de modo que começara a aventar a hipótese de desisitir de tudo. Chega uma hora em que o cansaço vence. De que adiantaria, porém? Ainda assim seria incapaz de comover o coração mais mole, de extrair uma minúscula gota de compaixão. Eu sei, é deprimente tudo isso. Acontece que eu prometi escrever até o fim e estou disposto a seguir o meu propósito. Prefiro deixar de fazer qualquer descrição dela, afinal não quero assustar ninguém em demasia. Basta pensar em alguém extremamente infeliz, que deixa os outros em situação pior do que a própria, às vezes, e que não pode largar sua sina. É um bom resumo do que foi dito até agora. Portanto, senhoras e senhores, tenho a honra de lhes apresentar a Morte.

Um comentário:

Anônimo disse...

aeeee! mto bom hein??
curti o texto Iago! *------*
bela descrição da Morte ^^