segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Flashback

Morreu às 23h30min daquela sexta-feira, abandonada num corredor escuro de um hospital público. Às 21h50, fora encontrada num beco sujo, com uma poça de sangue ao seu lado. Não tinha forças nem para gritar. Percebiam-se claramente sinais de severa agressão. Às 20h30, dois homens abordaram-na no seu trajeto para casa, um deles portando revólver calibre 38. Fora conduzida até o já citado beco e estuprada, de forma sádica, com a produção de várias escoriações pelo seu indefeso corpo. Às 19h30, voltava de seu emprego exausta. Mais uma vez sofrera as humilhações da patroa, aguentando tudo calada, afinal era o único sustento com o qual sua família podia contar. Tinha certeza de que, um dia, seus méritos seriam recompensados, nem que fosse pelo Deus tão comumente falado pelas pessoas. Às 15h, ainda guardava uma leve esperança de comer, já que tinham roubado seu almoço, como de praxe. Mas sabia muito bem da boa-vontade de D. Augusta: dela não podia esperar nada, exceto um mísero salariozinho no fim do mês, isso quando Seu Artur conseguia manter as contas da casa "em dia" (desculpa de rico pão-duro, raciocinava). Às 10h caminhava um tanto apressada por uma dessas ruas feias, encontradas em todas as grandes cidades. Se chegasse atrasada mais uma vez, levaria uma bronca daquelas. E, sinceramente, não gostava de ser repreendida tão severamente. Às 7h presenciara mais uma briga entre seus pais, ele eternamente bêbado, ela sempre reclamando de tudo. Até que ponto eles ficariam sem se matar? Às 6h, acordara e pensara: "Hoje o dia tem tudo pra ser maravilhoso!"

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