terça-feira, 15 de julho de 2008

Paralisia

Mais uma vez no mesmo consultório. Sentou-se na poltrona azul. Ainda lembrava-se da primeira coisa que a psicóloga lhe falara: "Escolha um dos azuis". Na verdade, já estava farto de tudo aquilo. Olhou para o ar-condicionado. 24º. Inflexíveis. Sempre lá. E isso, mais uma vez, proporcionou-lhe aquela já conhecida sensação de tédio, paralisante, mortificante. Exatos 45 minutos depois, saiu, com a sensação de ter ficado ainda mais vazio. Como das outras vezes. Expunha sua intimidade visceralmente e não recebia nada em troca. Andava desolado. Por dentro. Sua aparência exterior era apática, como uma paisagem sem cor. Ou melhor, cinza. Sua vida era cinza, numa eterna indefinição ente o preto e o branco. Já se acostumara. Será? Pelo menos tentava. Mas, num segundo, tudo pareceu mudar. Um baque. Acidente de trânsito. Vidro pra todo lado. Sirene. Luzes. Ele, petrificado, olhava. Surge à sua frente uma mulher, fora sua namorada de infância. Sangue no chão. Ela começa a conversar. Uma pomba no céu. Pessoas sendo retiradas do meio das ferragens. A voz. A pomba some por entre os edifícios. E ele pensa que pode mudar, pode fazer tudo diferente. O acidente penetra-lhe nas veias, a mulher envolve-lhe a mente. Só precisa identificar um detalhe. Para ter certeza. Para libertar-se. Olha para a esquina. O termômetro marca 24º.

2 comentários:

Bruno Diniz disse...

Sempre as coisas simples da vida nos fazem pensar em como mudar algo, como melhorar as coisas e o ambiente a nossa volta.
;D
uma pequena curiosidade: pq essa fixação pelo nº 24? estranho.... mto estranho
auahuahuha
brincadeira...
aguardo novos posts...

Nícholas Mendes disse...

ow
quando vc tiver um tempo vc me exlica.
desculpa,mas eu não intendi.
¬¬"