sábado, 3 de janeiro de 2009

Felicidade

Ela acordou especialmente feliz naquele dia, tomada por uma felicidade incrível, não do tipo que se experimenta quando se compra ou se come (em todos os sentidos possíveis) algo desejado. Era um tipo de felicidade que atuava como um divisor de águas, como se a vida dela antes daquele dia fosse um passado morto, enterrado e esquecido para todo o sempre amém. Ela se sentia mais que onipotente. Sim, porque muitas pessoas, quando arrebatadas por surtos de euforia, pensam poder se jogar de prédios ou na frente de automóveis que nada lhes acontece. Mas ela estava além disso. Sabia que não precisava fazer nada pra se convencer do quanto estava feliz. Era como se soubesse de um segredo crucial, como a origem da vida, e não quisesse partilhá-lo com ninguém, apenas desfrutar do conhecimento e deleitar-se com isso. Enfim, essa parca descrição dá uma leve ideia (reforma ortográfica já começou ¬¬) do que se passava na mente de uma jovem qualquer num dia de, vejamos... outono, sim, estação adequada. Agora, ela precisava descobrir a fonte dessa felicidade, para que não corresse o risco de perdê-la. E não foi muito difícil encontrá-la: ora, ela estava apaixonada. O que mais, além do amor, poderia provocar algo assim? Era inevitável que, após essa constatação, viesse uma segunda pergunta, tão ou mais importante que a primeira: por quem ela estava apaixonada? Bem, poder-se-ia ver seu sorriso zombeteiro, como a dizer  que importa, isso é o de menos. Ela apenas precisava sentir o amor pulsar em suas artérias, deslizar por sua pele como amarras de seda, que nos seduzem ao mesmo tempo que nos prendem. Estava decidido. A partir daquele dia, estava apaixonada, e isso lhe deixava muito feliz, e não ligaria para mais nada além disso. Ponto. Tinha resolvido. Ah, que sensação boa essa de abandonar-se ao sentimento sem nenhuma preocupação, de ser preenchida por ele sem sentir remorso ou até mesmo medo! Seria realmente maravihoso se tudo acabasse com essa frase, com um típico final feliz. Mas não. No dia seguinte, encontraram-na morta, pendurada por uma corda em seu quarto. O motivo do suicídio? É óbvio que os policiais ou outras pessoas que a viram não têm a mínima noção do que seja, afinal eles não são dotados da capacidade de perscrutar o mais íntimo refúgio da mente das pessoas, mas não deixarei meu caro leitor na mão, já que me foi dado conhecer a triste história dessa garota: ela engordara dois quilos desde a última vez que se pesara.

P.S.: Porque a loucura tem muitas faces, resta descobrir qual delas trazemos conosco.

4 comentários:

Fernando Neves - KroSS disse...

Sublime.

Adorei a forma com que foi-se formando o texto. A ortografia nem preciso comentar(tem até partes da nossa nova-merda ordem gramatical - tbm estou triste com isso, k'ra). Mas, o texto está mtu bom. Meo Deus!
:D

Agora aquele final. Se meninas algumas das nossas "mulheres modernas" ver isso... irão ficar fulas da vida! aUIIUAhuAH!
:D

Mas foi legal o PS. Eu tenho até medo de descobrir minhas loucuras!
hehe!
>.<'

Legalz k'ra. Curti o texto. Parabéns!!!
:D

Thaís disse...

Virei fã dos teus contos!
São incríveis, instigam o leitor que no meio já fica sem fôlego! E esse último é tratado de uma forma tão sutil, que impressiona, complementado pelo "PS".

E obrigada pelos honrosos comentários nos meus textos :)

Capitu disse...

Sempre com uma surpresa no final....li todos os seus textos e te admiro cada vez mais...pela clareza que sinto das coisas..não fica nada no ar é tudo muito detalhado, explicado.
Sou sua fã
E meus humildes parabéns

Anônimo disse...

nossaa... que texto foda. Foi um dos seus melhores. Estou de cara, eu adorei! Adorei a idéia, o final, o motivo do suicídio. Adoro ler o que escreve. beeijo

/gabi catanduva.